O sonho de voar começou cedo. Olhava para o céu
azul e imaginava como seria estar entre as nuvens brancas.
O barulho do motor, o cheiro do combustível, os instrumentos,
os comandos, o macacão de vôo, a sensação
de comandar o avião! Tudo fazia parte daquele filme
que, ilustrado com cenários maravilhosos de montanhas,
vales, cidades e rios, que se repetia milhares de vezes em
minha mente.
As condições iniciais eram difíceis,
mas a vontade era mais forte que o medo de tentar. O meu entusiasmo
muitas vezes forçava o assunto com os amigos enquanto
trabalhávamos nas oficias da RFFSA em Bauru. Eu era
apenas um garoto, um eletricista aprendiz, todo sujo de graxa,
sem pais ricos ou infuentes. Apenas “mais um”,
entre tantos como eu pelo Brasil afora.
Ao contar sobre os meus “sonhos aéreos”,
a reação comum dos companheiros mais velhos
do trabalho era tentar me convencer da sua impossibilidade.
“Esquece disso moleque! Isso é só para
os filhos dos ricos. Você só vai ficar frustrado!”.
Sei que não falavam por mal, mas era uma maneira de
impor, sobre os “meus sonhos”, os limites que
“eles criaram”.
Hoje em dia, uma das minhas principais, e mais gratificantes,
atividades é usar a minha experiência de vida
e os meus conhecimentos profissionais para ajudar pessoas
a desenvolverem os seus potenciais e terem sucesso. Converso
com milhares de jovens e adultos em palestras que faço
por todo o Brasil. Observo claramente que os principais problemas
para atingirem seus objetivos e realizarem seus sonhos são
os limites que eles mesmos colocaram no seu crescimento.
Na grande maioria das vezes, esses limites foram criados e
impostos por outras pessoas, por boas, ou por más intenções.
Eles simplesmente “aceitaram”, passando a acreditar
e agir como se realmente fossem limitados. Aí, convencidos
e conformados com a própria mediocridadde, costumam
dizer coisas como: “Eu não sou inteligente o
suficiente para assumir essa função! Eu nunca
teria coragem para isso! Na minha família, ninguém
chegou à faculdade!”
Não é necesário dizer que, se você
mesmo não acredita, nem se dá conta do seu enorme
potencial, as suas chances de encontrar oportunidades, e lutar
por elas, estarão reduzidas a zero!
É preciso acreditar em você e seguir o seu coração.
Recordo uma cena do filme “Coração Valente”,
quando o jovem William sonha com o seu pai deitado, morto,
depois da batalha. De repente, o seu pai vira a cabeça
e diz: “William, tenha coragem de seguir apenas o seu
coração!”
Isso é um fato! Lembre-se que a sua felicidade é
algo muito pessoal. Ela está dentro de você e
não na interpretação de outras pessoas.
Acredite em você! Não deixe que a opinião
de outras pessoas sobre o que é posível ou não
para “você realizar” imponha limites ao
seu desenvolvimento.
Note que isso não significa ignorar a experiência
de outras pessoas. Significa ouvir, aprender com os erros
dos outros, avaliar os riscos e escolher a ação
correta. Nunca limitar-se.
Não tenha medo da frustração. É
sempre melhor arriscar a ser feliz do que ficar estagnado,
e viver com medo, lamentando o que não fez. Isso sim
é frustração!
Quanta gente você conhece que diz: “Ah se eu tivesse
pelo menos tentado!”
Além do mais, o sentido real da vida está em
ter um verdadeiro ideal e, principalmente, viver para ele.
A coisa mais importante da vida é viver! Parece óbvio,
não é? A diversão está em viver!
Tentar! A felicidade está no caminho, não na
chegada. Você já parou para pensar qual é
a chegada, o ponto final, da vida de todos nós? Portanto,
aproveite o “agora”, pois apenas no dia de hoje
é que você tem, efetivamente, a chance de amar,
sorrir, chorar, apreciar, aprender e crescer!
Assim, quebre todos os seus limites. Não aceite as
“impossibilidades” que alguém impõe
a você. Saia da toca escura onde vivem os ratos e as
baratas. Abra os olhos e encare a luz do conhecimento. Olhe
bem para você. Veja só...você tem grandes
asas! Use-as! Decole para a vida e voe alto com as águias!
Marcos
Pontes
Colunista,
professor e primeiro astronauta profissional lusófono
a orbitar o planeta, de família humilde, começou
como eletricista aprendiz da RFFSA aos 14 anos, em Bauru (SP),
para se tornar oficial aviador da Força Aérea
Brasileira (FAB), piloto de caça, instrutor, líder
de esquadrilha, engenheiro aeronáutico formado pelo
Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA),
piloto de testes de aeronaves do Instituto de Aeronáutica
e Espaço (IAE), mestre em Engenharia de Sistemas graduado
pela Naval Postgraduate School (NPS USNAVY, Monterey - CA). |