Tudo na natureza é, de um jeito ou de outro, movido
pelo que denominamos “energia”. Somos parte de
um grande sistema. Usamos a energia já existente no
sistema trabalhando nossas escolhas através do armazenamento
e das trocas de suas formas. A pura criação
ou destruição da energia estão ainda
fora do nosso alcance prático.
Dominamos apenas algumas das suas possíveis transformações
e técnicas de armazenamento. Quando transformamos energia,
normalmente escolhemos o objetivo (uma nova forma) e tentamos
concentrar o máximo de resultado sobre esse objetivo.
Contudo, nesse processo sempre “perdemos” alguma
parcela da energia inicial, normalmente em forma de calor.
Por exemplo, quando um motor de automóvel transforma
energia na forma química em energia cinética,
parte da energia química inicial se transforma em calor,
e o motor aquece.
A transformação ideal seria 100% no objetivo,
mas o sistema de “vedação” do fluxo
de energia durante a transformação teria de
ser perfeito, o que não é possível na
prática. Portanto, a própria transformação
tem um custo em energia transformada. Como se o calor resultante
fosse a energia necessária para a transformação
ocorrer utilizando aquela determinada ferramenta (motor).
Quanto ao armazenamento, aprendemos que o mesmo é possível
através da separação e “distanciamento”
de “duais opostos”. Quando isso é feito,
a energia sempre estará concentrada, pronta para ser
transformada, ao longo da “linha” que une esses
dois pontos opostos. A presença da energia armazenada
entre os dois pontos torna a situação instável
e permite o seu aproveitamento.
Quando dois opostos são unidos, existe uma imediata
liberação da energia armazenada. O processo
da união dos opostos também é um processo
de transformação de energia. A maior parte irá
se transformar em alguma forma majoritária. Alguma
parcela será liberada em outras formas (vazamentos)
durante o processo.
O equilíbrio permanente estável de qualquer
sistema na natureza tende a acontecer no estado de menor energia
armazenada. Assim, um dos resultados da união de dois
opostos, além da transformação de energia
e fluxo da mesma para fora da “linha” que existia
entre os dois, é o surgimento de um ponto de equilíbrio
estável. Havendo forma física finita e definida,
o “corpo” ao redor do ponto estável será
composto de parcelas dos dois opostos. Assim, embora esse
corpo tenha um ponto de equilíbrio, a presença
dos dois opostos, mesmo com pequenas distâncias, irá
causar instabilidades internas ao corpo, permitindo o fluxo
de energia interna e as transformações necessárias.
Pense sobre esses conceitos aplicados em sua própria
vida. Os exemplos que temos da nossa experiência com
a ciência nos dão pequenas dicas do que acontece
conosco como seres humanos, parte desse grande sistema chamado
universo. A natureza é uma só, tudo está
submetido as suas leis, às mesmas leis. Nossas interações,
no campo físico e espiritual, com outras pessoas e
com todo o ambiente que nos cerca são feitas através
de transformação e armazenamento de formas de
energia.
De forma simples, podemos imaginar que, como seres humanos,
temos um referencial comum e vivemos através da utilização
da energia armazenada entre dois opostos afastados. Intrinsecamente
somos criados com parcelas complementares de cada grande oposto,
o que nos posiciona inicialmente em um ponto nesse sistema.
Ao longo da nossa vida, fazemos as nossas escolhas de transformação
dessas parcelas. Isso nos faz deslocar, mudar de posição,
entre esses dois lados. Como a natureza também tem
a característica cíclica, com padrões
que se repetem em níveis diferentes, a própria
relação entre as pessoas, assim como os fenômenos
dentro da própria pessoa, também seguem os mesmos
princípios ligados à separação
de opostos e à transformação da energia.
Portanto, tensões, atrações, “estresses”,
ansiedades, amor, etc, todos são partes de uma mesma
idéia entre o equilíbrio e a energia.
Marcos
Pontes
Colunista,
professor e primeiro astronauta profissional lusófono
a orbitar o planeta, de família humilde, começou
como eletricista aprendiz da RFFSA aos 14 anos, em Bauru (SP),
para se tornar oficial aviador da Força Aérea
Brasileira (FAB), piloto de caça, instrutor, líder
de esquadrilha, engenheiro aeronáutico formado pelo
Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA),
piloto de testes de aeronaves do Instituto de Aeronáutica
e Espaço (IAE), mestre em Engenharia de Sistemas graduado
pela Naval Postgraduate School (NPS USNAVY, Monterey - CA). |