EQUILÍBRIO E ENERGIA

Marcos Pontes
03/10/2007

Tudo na natureza é, de um jeito ou de outro, movido pelo que denominamos “energia”. Somos parte de um grande sistema. Usamos a energia já existente no sistema trabalhando nossas escolhas através do armazenamento e das trocas de suas formas. A pura criação ou destruição da energia estão ainda fora do nosso alcance prático.
Dominamos apenas algumas das suas possíveis transformações e técnicas de armazenamento. Quando transformamos energia, normalmente escolhemos o objetivo (uma nova forma) e tentamos concentrar o máximo de resultado sobre esse objetivo. Contudo, nesse processo sempre “perdemos” alguma parcela da energia inicial, normalmente em forma de calor. Por exemplo, quando um motor de automóvel transforma energia na forma química em energia cinética, parte da energia química inicial se transforma em calor, e o motor aquece.
A transformação ideal seria 100% no objetivo, mas o sistema de “vedação” do fluxo de energia durante a transformação teria de ser perfeito, o que não é possível na prática. Portanto, a própria transformação tem um custo em energia transformada. Como se o calor resultante fosse a energia necessária para a transformação ocorrer utilizando aquela determinada ferramenta (motor).
Quanto ao armazenamento, aprendemos que o mesmo é possível através da separação e “distanciamento” de “duais opostos”. Quando isso é feito, a energia sempre estará concentrada, pronta para ser transformada, ao longo da “linha” que une esses dois pontos opostos. A presença da energia armazenada entre os dois pontos torna a situação instável e permite o seu aproveitamento.
Quando dois opostos são unidos, existe uma imediata liberação da energia armazenada. O processo da união dos opostos também é um processo de transformação de energia. A maior parte irá se transformar em alguma forma majoritária. Alguma parcela será liberada em outras formas (vazamentos) durante o processo.
O equilíbrio permanente estável de qualquer sistema na natureza tende a acontecer no estado de menor energia armazenada. Assim, um dos resultados da união de dois opostos, além da transformação de energia e fluxo da mesma para fora da “linha” que existia entre os dois, é o surgimento de um ponto de equilíbrio estável. Havendo forma física finita e definida, o “corpo” ao redor do ponto estável será composto de parcelas dos dois opostos. Assim, embora esse corpo tenha um ponto de equilíbrio, a presença dos dois opostos, mesmo com pequenas distâncias, irá causar instabilidades internas ao corpo, permitindo o fluxo de energia interna e as transformações necessárias.
Pense sobre esses conceitos aplicados em sua própria vida. Os exemplos que temos da nossa experiência com a ciência nos dão pequenas dicas do que acontece conosco como seres humanos, parte desse grande sistema chamado universo. A natureza é uma só, tudo está submetido as suas leis, às mesmas leis. Nossas interações, no campo físico e espiritual, com outras pessoas e com todo o ambiente que nos cerca são feitas através de transformação e armazenamento de formas de energia.
De forma simples, podemos imaginar que, como seres humanos, temos um referencial comum e vivemos através da utilização da energia armazenada entre dois opostos afastados. Intrinsecamente somos criados com parcelas complementares de cada grande oposto, o que nos posiciona inicialmente em um ponto nesse sistema. Ao longo da nossa vida, fazemos as nossas escolhas de transformação dessas parcelas. Isso nos faz deslocar, mudar de posição, entre esses dois lados. Como a natureza também tem a característica cíclica, com padrões que se repetem em níveis diferentes, a própria relação entre as pessoas, assim como os fenômenos dentro da própria pessoa, também seguem os mesmos princípios ligados à separação de opostos e à transformação da energia. Portanto, tensões, atrações, “estresses”, ansiedades, amor, etc, todos são partes de uma mesma idéia entre o equilíbrio e a energia.

Marcos Pontes
Colunista, professor e primeiro astronauta profissional lusófono a orbitar o planeta, de família humilde, começou como eletricista aprendiz da RFFSA aos 14 anos, em Bauru (SP), para se tornar oficial aviador da Força Aérea Brasileira (FAB), piloto de caça, instrutor, líder de esquadrilha, engenheiro aeronáutico formado pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), piloto de testes de aeronaves do Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE), mestre em Engenharia de Sistemas graduado pela Naval Postgraduate School (NPS USNAVY, Monterey - CA).

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