QUESTÃO DE HÁBITO

Marcos Pontes
30 /04/2008

Virtualmente tudo o que fazemos é resultado de algum tipo de hábito. O modo de falar, trabalhar, interagir com outras pessoas, dirigir, pensar, gastar dinheiro, etc, tudo sempre tem uma grande influência dos nossos “procedimentos automáticos”.

Nosso comportamento em todas as áreas da vida são fortemente baseados em nossas experiências acumuladas desde a nossa infância. Durante as atividades do dia-a-dia, mais de 90% das nossas respostas são automáticas, como idéias pré-concebidas e ações inconscientes dependentes dos “inputs” do ambiente e situação.

Embora isso seja prático e use menor energia, afinal não temos que repensar soluções para problemas similares a cada instante, o desenvolvimento de hábitos também pode ser um dos maiores obstáculos para conseguirmos realizar os nossos sonhos.

Eles tendem a nos fazer patinar no mesmo lugar. Continuamos a fazer as mesmas coisas das mesmas maneiras, mesmo quando sabemos que podemos e devemos mudar alguma coisa para melhorar em alguma área. É como diz a primeira lei de Newton na física clássica: um corpo permanecerá em movimento retilíneo uniforme ou em repouso até que uma força externa atue sobre ele. No caso do comportamento, essa “força” chama-se motivação.

Um agravante: em situação de “estresse”, a nossa resposta usual é fazer “mais da mesma coisa!” Assim, tendemos a ficar tentando uma solução que notadamente não deu resultado, mesmo que exatamente essa “coisa” tenha sido a causa primária do “estresse”!

Coisa doida, não é mesmo?

Pense sobre bebida. Apesar de haver, nesse caso um fator fisiológico de dependência química envolvida, é fácil observar que pessoas com inúmeros problemas na vida ligados, direta e indiretamente, ao consumo de álcool, sabem conscientemente que a bebida é a raiz dos problemas, porém tendem, especialmente nos momentos de crise, a beber ainda mais como “solução” para “esquecer e afogar esses mesmos problemas”.

Esse ciclo realimentado de hábitos ruins é extremamente perigoso, podendo levar a todos os tipos de resultados sérios, como depressão e outras doenças.

As perguntas que surgem são: como evitar entrar nesse ciclo? Como evitar hábitos ruins? Como desenvolver hábitos bons? É possível fazer isso?

A boa notícia é que TODOS os comportamentos podem ser desenvolvidos com treinamento e técnicas estruturadas. Contudo, primeiro é necessário ter a devida motivação, forte e continuada, por um objetivo claro e realista. Esta é a maneira de sair ou evitar entrar no ciclo descendente dos hábitos ruins.

Sim! Todos nós podemos nos livrar dos hábitos ruins e criar hábitos bons, ou “procedimentos padronizados”, que se alinhem exatamente com a nossa expectativa de performance necessária para atingir uma determinada meta. Como ponto de partida, basta que essa meta seja suficientemente atraente para sobrepujar nossa tendência de permanecer dentro da nossa zona de conforto e ao redor dos nossos antigos hábitos. Você já falou coisas como: “não me sinto seguro”, “assim sempre funcionou”, “e se eu errar?”, etc?

Note que todas as nossas decisões e ações são inicialmente motivadas por apenas duas emoções: medo e prazer. Fugimos do que nos dá medo, e somos atraídos pelo que nos dá prazer. Isso é natural. O problema acontece quando não interpretamos corretamente uma situação que deveria causar uma ou outra dessas duas emoções. Quando isso acontece, podemos sentir prazer com algo que deveria, em plena consciência, nos dar medo (como drogas, riscos inúteis, etc), ou sentir medo do que deveria nos dar prazer (como aprender, mudar de vida para melhor, etc).

Observe que temos hábitos de resposta exterior e interior. Isto é, como resposta exterior, em face de uma determinada situação nós respondemos com gestos, ações, expressões, palavras, etc. Como resposta interior, nós “pensamos alguma coisa”, “interpretamos” e julgamos o que “podemos”, “ou não”, fazer. A resposta interior ocorre primeiro, depois, talvez, virá, ou não, a resposta exterior.

Ou seja, os hábitos de resposta interior, ou as nossas “primeiras idéias” perante uma determinada situação, são os mais importantes, pois determinam as nossas expectativas de performance para trabalhar aquela situação. Essas expectativas, por outro lado, são as bases da nossa atitude (otimista ou pessimista) que, no final das contas, será o determinante das ações que nos levarão ao sucesso ou à falha. Quantas vezes você já pensou, mesmo sem qualquer análise mais profunda da situação, coisas como: “eu não consigo fazer isso!”, “isso não é para mim!”, “isso é muito complicado!”, “nada funciona comigo!”, etc?

É claro que esses hábitos mentais ruins de resposta interior são os mais difíceis de mudar. Porém, se você quiser ter sucesso e “mudar de situação”, você precisa descartar tudo o que não serve, ou atrapalha, na sua caminhada para as suas metas. Os hábitos ruins devem ser substituídos por hábitos compatíveis com a sua nova vida. Eles devem ser congruentes com a vida que você sonha ter.
Descartar hábitos mentais ruins será a coisa mais difícil que você já fez, mas saber fazer isso é uma característica comum das pessoas de sucesso. Lembre-se disso: hábitos ruins são fáceis de adquirir e difíceis de carregar ao longo da vida. Hábitos bons são difíceis de adquirir e fáceis de carregar na vida!

 

Marcos Pontes
Colunista, professor e primeiro astronauta profissional lusófono a orbitar o planeta, de família humilde, começou como eletricista aprendiz da RFFSA aos 14 anos, em Bauru (SP), para se tornar oficial aviador da Força Aérea Brasileira (FAB), piloto de caça, instrutor, líder de esquadrilha, engenheiro aeronáutico formado pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), piloto de testes de aeronaves do Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE), mestre em Engenharia de Sistemas graduado pela Naval Postgraduate School (NPS USNAVY, Monterey - CA).
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