Brigas entre estudantes, professores agredidos, aulas interrompidas, atenção perdida... O objetivo principal, o desenvolvimento humano, fica cada vez mais distante.
O que ocorre hoje em dia nas escolas? Nos noticiários, vários casos de violência dentro das instituições de ensino. Quais são os fatores contribuintes para esse problema? O que pode ser feito?
Para começar a tratar do assunto, precisamos de uma referência. Será que em algum momento esse problema foi (ou ainda é) inexistente ou extremamente reduzido?
Sim! No Brasil, há 20 ou 30 anos, não se ouvia notícias sobre esse tipo de comportamento dentro das escolas. Atualmente, em vários países, como Japão, Coréia do Sul e outros, a "educação", no sentido mais amplo da palavra, não se mistura com violência.
Olhando apenas para esses dois pontos de referência: primeiro, pode-se dizer que, certamente, existe algum componente cultural envolvido nos resultados observados; segundo, embora teorias e técnicas de ensino tenham avançado bastante nas últimas décadas, no Brasil, por alguma razão, a atitude de todos os envolvidos no processo - estudantes, pais, professores, funcionários, autoridades, etc. - piorou.
Considerando a "cultura" como resultado construído pouco a pouco com a "colaboração" de todos que compõem nossa sociedade, seria lógico imaginar que ela não é algo que "muda de uma hora para outra". Portanto, talvez a mudança de atitude observada aqui no Brasil seja causada por fatores mais transitórios (menos profundos) na nossa comunidade, mas que, com a devida "permissão da cultura", tem influenciado negativamente o comportamento também dentro das escolas.
De qualquer modo, antes de chegar ao cenário que temos hoje em nossas escolas, a última parada desse trem de fatores chama-se indisciplina.
Antigamente, a disciplina era vista como elemento essencial do aprendizado para a vida. Começava em casa, com os valores ensinados pelos pais e continuava na escola, tais como: o respeito ao mestre, a consciência de cumprir os deveres antes de solicitar os direitos, o conhecimento e a aceitação das regras. Também as normas de conduta exigidas para se ter o direito de frequentar as aulas, o uso obrigatório do uniforme e o cuidado com o patrimônio da escola.
Continuando, a observação estrita da etiqueta social no convívio dentro da escola, a punição (incluindo expulsão) pelo desrespeito às regras ou pelo comportamento inadequado e a maior participação dos pais na formação de valores, nas atividades da escola e no apoio à autoridade dos professores. Tudo cobrado com rigor pela direção da escola, observado por professores prestigiados pela sociedade e sempre apoiados pela lei e por autoridades sem medo de "perder votos" por usar palavras como disciplina, deveres, regras, comportamento, obrigatório, punição, exclusão, etc.
"O seu direito termina quando começa o direito de outras pessoas"; "Trate outras pessoas da maneira como você gostaria de ser tratado"; "Se todos obedecem às regras, todos compartilham o sucesso". Essas eram fases simples que meus pais costumavam usar para me ensinar sobre a necessidade de respeitar outras pessoas, aprender a importância da disciplina para suportar os desafios da vida, perceber que o direito do grupo é sempre maior que o meu direito pessoal e que seguir as regras é a maneira de garantir o sucesso de todo o grupo, inclusive o meu.
Na prática, é simples: muita gente grita pelos "seus direitos", clamando pela liberdade de fazer tudo que bem entende. Se a pessoa que exige seus direitos também os cumpre e não interfere nos direitos do grupo, excelente! Isso é ótimo para todos. Por outro lado, caso essa pessoa só enxergue seus direitos, ela não merece fazer parte do grupo.
Portanto, com relação ao cenário atual de nossas escolas, quais seriam as ações possíveis para reduzir o problema da violência?
As autoridades dar o exemplo e estabelecer normas de conduta mais firmes e detalhadas, observadas por todas as escolas e por todos os participantes do processo, além de incluir a participação dos pais na escola e na responsabilidade pelos resultados. Poderiam também resgatar o poder e o prestígio do magistério, dando suporte devido a esses profissionais não só nas questões de valorização do seu trabalho, mas no apoio às suas decisões e autoridade dentro da sala de aula quanto ao cumprimento das exigências das normas estabelecidas.
A direção da escola poderia garantir a aquiescência legal dos pais, no momento da matrícula, de todas as regras a serem seguidas pelos seus filhos para a permanência na escola, supervisionar a observação estrita dessas regras no dia a dia da escola e punir da forma estabelecida nas normas quem não tiver o comportamento previsto. Existe também a possibilidade de orientação direcionada aos pais, para um melhor acompanhamento dos filhos e trato das questões comuns da educação de valores em casa.
Pequenos conflitos e ajustes naturais de convivência da idade escolar são normais, sempre existiram e sempre existirão. Eles fazem parte do desenvolvimento e podem ser tratados caso a caso entre professores, estudantes e pais, sempre norteados por regras claras e de conhecimento comum.
Uma presença constante de policiais especialmente treinados para o trato com estudantes em todas as escolas certamente traria mais segurança e melhoraria a integração social, especialmente em regiões com mais incidência de criminalidade.
Finalmente: participação de todos!
Criar uma sociedade justa, honesta, disciplina e desenvolvida exige uma parcela de dedicação de todos.
Incentive a disciplina nas escolas, apoie o cumprimento das normas estabelecidas, não vire as costas para o problema "achando normal" a escola "refletir a violência atual da sociedade". Participe das soluções, visite as escolas de seu bairro, ajude de alguma forma, mesmo que seus filhos já não estejam em idade escolar, mesmo que você não tenha filhos. Não espere pelo governo. A sua atitude faz muita diferença. A escola não pode ser o reflexo das coisas ruins que existem na sociedade de hoje: a escola deve ser a semente das coisas boas que queremos na sociedade de amanhã.
Astronauta Marcos Pontes
Nascido em Bauru, SP, em 1963, Marcos Pontes atualmente é Astronauta Profissional Especialista de Missão, formado pela NASA e pela Roscosmos, à disposição do Brasil, aguardando a escalação pelo governo para seu segundo voo espacial. É Palestrante Motivacional, Coach Especialista em Desempenho Pessoal e Desenvolvimento Profissional, Mestre em Engenharia de Sistemas, Engenheiro Aeronáutico pelo ITA, Diretor Técnico do Instituto Nacional para o Desenvolvimento Espacial e Aeronáutico, Empresário, Consultor Técnico, Embaixador Mundial do Ensino Profissionalizante, Embaixador das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial, Presidente da Fundação Astronauta Marcos Pontes e Autor de três livros: “Missão Cumprida. A história completa da primeira missão espacial brasileira”, “É Possível! Como transformar seus sonhos em realidade” e “O Menino do Espaço. A história do Primeiro Astronauta Brasileiro”, todos publicados pela editora Chris McHilliard do Brasil.
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