Sonhar é essencial para o sucesso. Porém, uma pessoa com pouca autoconfiança teme mudanças e, em consequência, também evita sonhar. Os pessimistas geralmente têm pouca autoconfiança.
Devemos ficar atentos para não deixar a nossa autoconfiança ser afetada por crenças e ideias negativas que surgem em nossa mente por influência de outras pessoas ou por generalização.
Ao longo da vida percebemos que a maneira como habitualmente tratamos pequenos problemas será a maneira como trataremos também os grandes. Adquirimos e usamos padrões de comportamento que refletem em todas as nossas atividades.
Por exemplo, depois de cometer um erro durante uma operação importante, temos a tendência de assumir que apenas porque erramos uma vez, erraremos sempre. Ignoramos a nossa capacidade de aprender e perdemos confiança na nossa competência para realizar não só aquele procedimento, mas muitas outras atividades.
Essa é uma maneira rápida de destruir a nossa autoconfiança.
No meu tempo de esquadrão de caça em Santa Maria, no Rio Grande do Sul, tínhamos missões diurnas e noturnas. Por alguma razão anterior, talvez por alguma experiência ruim durante a minha formação de piloto, eu detestava voar durante a noite e acreditava ser um péssimo piloto em tais condições.
Como resultado, embora meus acertos nos treinamentos de bombardeio fossem bons durante o dia, nos voos noturnos eles eram inconstantes, espalhados ao redor do alvo, o que é ruim para a confiabilidade de missão.
Um dia, o Comando determinou que fôssemos o primeiro esquadrão a realizar missões noturnas a baixa altura sobre o mar e a mais de cem milhas da costa. O objetivo era treinar os sistemas de defesa dos navios da Marinha brasileira.
O chefe de operações me chamou em sua sala e disse que eu seria escalado para liderar as primeiras missões. Falou que, de acordo com minha ficha operacional, eu era especialmente dotado para missões noturnas e que isso deveria ser aproveitado em combate. Tal informação deu "um nó" na minha cabeça. Como era possível? Meus resultados eram inconstantes e, apesar disso, durante toda a minha carreira, os avaliadores consideravam que eu era um ótimo piloto para liderar ataques noturnos? Claro que eu sabia que a avaliação era feita por pilotos muito mais qualificados do que eu, mas aquilo ainda me parecia muito estranho! Depois de muita insistência, o chefe de operações mostrou os arquivos confidenciais de minha performance. Realmente o que ele dissera era verdade. E com todas as justificativas. Como poderia ser?
Ocorre que meu julgamento pessoal estava fixado em um ponto único, uma missão ou uma atividade realizada em que eu não obtivera o resultado esperado em minha mente. Assim, eu generalizava aquela percepção de falta de competência para todo o restante da minha performance em voo noturno. Minha pouca autoconfiança naquele tipo de missão era resultado dessa generalização. Minha expectativa geral de performance nos voos noturnos era influenciada por uma crença irreal, um modelo mental equivocado que afetava a minha atitude e o meu comportamento. Portanto, quando via um alvo durante a noite, eu não tinha confiança suficiente para acreditar nas minhas correções. Isso causava o espalhamento das bombas. O resultado ruim realimentava o ciclo negativo. Com falta de autoconfiança eu nunca imaginava ser capaz de liderar qualquer campanha noturna.
Acontece que eu tinha um ótimo desempenho em todas as outras competências do voo noturno, especialmente liderar com segurança a esquadrilha em condições críticas, como era esperado para missões a baixa altura sobre o mar com antigos jatos monomotores.
Saber da verdadeira avaliação fez com que eu mudasse minha expectativa e imediatamente quebrasse esse ciclo. Passei a me ver como um bom piloto para missões noturnas, a esperar bons resultados e a ter uma atitude otimista. Meus acertos melhoraram muito e comecei a sonhar com horizontes ainda maiores.
Portanto, diante de um desafio (e a vida nos oferece muitos), quando você se sentir "incompetente" para realizar alguma parte do seu planejamento, lembre-se de que essa sensação deve estar relacionada a alguma crença irreal criada no seu passado. Procure FATOS que demonstrem a sua competência. Focalize sua mente nesses resultados positivos. Acredite em você e sonhe alto!
Astronauta Marcos Pontes
Nascido em Bauru, SP, em 1963, Marcos Pontes atualmente é Astronauta Profissional Especialista de Missão, formado pela NASA e pela Roscosmos, à disposição do Brasil, aguardando a escalação pelo governo para seu segundo voo espacial. É Palestrante Motivacional, Coach Especialista em Desempenho Pessoal e Desenvolvimento Profissional, Mestre em Engenharia de Sistemas, Engenheiro Aeronáutico pelo ITA, Diretor Técnico do Instituto Nacional para o Desenvolvimento Espacial e Aeronáutico, Empresário, Consultor Técnico, Embaixador Mundial do Ensino Profissionalizante, Embaixador das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial, Presidente da Fundação Astronauta Marcos Pontes e Autor de três livros: “Missão Cumprida. A história completa da primeira missão espacial brasileira”, “É Possível! Como transformar seus sonhos em realidade” e “O Menino do Espaço. A história do Primeiro Astronauta Brasileiro”, todos publicados pela editora Chris McHilliard do Brasil.
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